Desde o início da pandemia em março de 2020, tanto as pessoas quanto as organizações buscam alternativas para superar desafios e se reinventar sob vários aspectos. Com relação aos sistemas de gestão que norteiam as empresas não é diferente. Mas o que mudou? O que ainda precisa ser aprimorado e quais são as expectativas em relação à gestão da qualidade para 2022?
O consultor e auditor sênior Ivan Gonçalves analisa o cenário dos Sistemas de Gestão nestes dois anos de pandemia e aponta perspectivas para que as empresas alcancem vantagem competitiva em 2022.
Qual a percepção das empresas em relação à Gestão da Qualidade pós-pandemia?
Nos últimos dois anos a pandemia teve um impacto considerável na gestão das organizações, afetando consideravelmente as operações da grande maioria e acarretando dissabores econômicos.
Esse cenário afetou significativamente a estrutura de gestão das organizações, especialmente aquelas que tem uma área voltada à gestão da qualidade.
“O que constatamos foi a redução considerável de recursos destinados à gestão da qualidade em empresas, seja através da rescisão de contratos com consultores, suspensão da certificação ou mesmo da redução do número de colaboradores atuantes nessa área. Todas alegando corte de custos para se adequar aos efeitos da pandemia.”
Esses cortes não foram tão intensos na área de controle de qualidade, em função de seu impacto na qualidade do produto. Vale ressaltar que esses reajustes aconteceram com mais intensidade em empresas com condição financeira menos robusta.
Quais as principais mudanças neste período e desafios a serem enfrentados?
O empresário brasileiro tem uma criatividade e resiliência muito grande para se adaptar ao novo cenário. Em termos organizacionais, fora os ajustes já citados, houve a necessidade de adaptação às exigências dos organismos de certificação (que também tiveram que se adaptar) para continuar atendendo com credibilidade as auditorias externas que, com autorização da ISO, passou a ser implementada de maneira híbrida e/ ou remota.
Outro ponto que ganhou destaque para empresas com uma cultura de gestão mais madura foi o gerenciamento de riscos. Embora no Brasil as empresas ainda pratiquem a gestão de riscos de maneira “embrionária”, a pandemia trouxe uma leitura um pouco mais aprofundada sobre esta questão ao trazer à luz a necessidade de abordar os riscos de maneira mais madura. Isto foi sem dúvida uma mudança positiva.
Em termos de desafios, percebo que a pouca participação da Alta Direção no sistema de gestão da qualidade ainda se configura como o principal vilão a ser derrotado. Mesmo com a mudança da ISO 9001 em não exigir mais o papel do RD (Representante da Direção) e cobrar um pouco mais a participação da Alta Direção, este acompanhamento por parte dos gestores ainda deixa a desejar.
Na minha avaliação esse cenário ocorre devido a falta de cobrança por parte de auditores com relação ao papel desses profissionais na implementação e manutenção dos sistemas de gestão. Sem cobrança (a norma ISO 9001:2015 dá o embasamento para isso) os gestores se sentem em posição confortável, trabalhando como meros expectadores do sistema de gestão da qualidade.
Requisitos da norma ISO 9001 que devem ser revistos para manter um SGQ efetivo
Apesar da pandemia ainda não ter tido um desfecho, o cenário atual tem uma perspectiva otimista. Algumas empresas ainda estão temerosas, mas a grande parte já consegue ter uma clareza maior quanto ao planejamento estratégico e seu futuro próximo.
Por isso, para manter o SGQ efetivo, é interessante os gestores realizarem uma releitura de requisitos que envolvam toda a parte estratégica, as expectativas das partes interessadas e também dos objetivos da qualidade.
Isso se torna necessário porque há grande probabilidade de que os objetivos e respectivos indicadores possam ter sido afetados em função da pandemia.
Como atender às partes interessadas e ganhar vantagem competitiva em 2002?
Entender quais as necessidades e expectativas das partes interessadas a partir dos efeitos da pandemia é o que dá a vantagem competitiva para 2022. Mas não é diferente do que já deveria estar sendo feito nos anos anteriores.
Um diferencial que pode ser melhorado seria ouvir das próprias partes interessadas e também do cliente externo quais são suas novas necessidades. Para isso, podem ser aplicadas enquetes, pesquisas que auxiliam os líderes da qualidade a ter maior assertividade na busca das ações que cumpram com este objetivo.
E por que é importante estar atento a isto? Normalmente as empresas estabelecem as ações pautadas apenas na sua análise interna e não perguntam para as partes envolvidas quais são suas reais expectativas.
Por isso, saber o que as partes desejam, como medir e acompanhar os resultados é o que torna a ISO 9001 tão diferenciada em relação aos outros modelos de gestão. Mas para que esta vantagem competitiva realmente ocorra em 2022 é preciso que essa cultura da qualidade esteja implementada e enraizada em todos os níveis da organização.
Conclusão
Ao analisar o cenário das organizações em relação às ações relacionadas ao sistema de gestão da qualidade, pode-se perceber em um primeiro momento que empresas que não possuem uma cultura da qualidade enraizada sofreram reduções significativas nas áreas de gestão e garantia da qualidade.
Por outro lado, no decorrer deste processo, novas oportunidades também surgiram. Uma delas é que este novo momento forçou as empresas a olharem com mais atenção e amadurecerem ações relacionadas ao gerenciamento de riscos e seu planejamento estratégico.
Para que as empresas sejam competitivas em 2022 e queiram manter um sistema de gestão da qualidade efetivo, é importante realizar uma releitura de requisitos da ISO 9001 que estejam relacionados às expectativas das partes interessadas, objetivos da qualidade, além de todas questões estratégicas do negócio.
E quanto à sua empresa? Quais ações estão sendo desempenhadas para que inicie o próximo ano alinhado aos princípios de melhoria contínua e gestão da qualidade? Se você quer otimizar e automatizar os processos da qualidade, entre em contato com os nossos especialistas.