Por Ivan Gonçalves
Auditor Sênior e especialista em sistemas de Gestão da Qualidade, meio ambiente, antissuborno e compliance.
“Quais os objetivos da qualidade de sua organização? Como esses objetivos estão alinhados à estratégia da empresa? O seu sistema de gestão da qualidade é eficaz? Você pode apresentar os resultados alcançados?” Quatro perguntas que tiram o chão de qualquer diretor quando este se encontra alheio ao sistema de gestão da qualidade da própria organização.
Ao longo dos últimos 20 anos, as percepções obtidas com auditorias internas e externas apresentam um quadro aterrador: o nível de desinformação dos profissionais da alta direção sobre os princípios basilares do sistema de gestão da qualidade.
Embora a própria norma ISO 9001 tenha evoluído ao longo das últimas 3 décadas, o comprometimento de diretores e presidentes ainda é pífio e a cobrança ainda não alcança a confortável zona em que estes se encontram estabelecidos.
Inúmeros fatores contribuem para esse cenário de “inanição conceitual” e desinteresse em relação à ISO 9001:
- Auditores (internos e externos) inseguros, intimidáveis e com pouca qualificação técnica que não questionam e exigem evidências relacionadas ao papel da alta direção;
- Consultores despreparados que não estimulam a alta direção a participar da construção conceitual e prática do SGQ;
- Organismos de certificação paternalistas ou deliberadamente comerciais que se satisfazem ao validar o SGQ que não evidenciam resultados compatíveis com os princípios apregoados;
- RD’s (Representantes da Direção) que não cobram a participação da alta direção;
- Diretores e Presidentes (Alta Direção) que não buscam conhecimento adicional e que, por isto, não entendem como a ferramenta de gestão ISO 9001 pode lhes auxiliar a alcançar os objetivos estratégicos previamente estabelecidos;
- Os requisitos da norma ISO 9001 ainda não falam a língua da alta direção ($$$);
- Literatura excessivamente técnica e pouco estimulante à leitura.
A tecnologia e a dinâmica da vida moderna nos conduzem para caminhos estéreis com relação à qualidade da informação. Não temos mais tempo para ler conteúdos mais elaborados, feitos por alguém que previamente os estudou com empenho antes de descrever suas considerações.
Nos dias de hoje, nos satisfazemos com qualquer artigo que nos traga uma informação imediata (geralmente superficial). Rapidamente nos tornamos “doutores” em determinado assunto sem qualquer embasamento e, com a segurança de nosso entendimento, iniciamos a emissão de nosso parecer sobre:
- A validade ou não da prisão em 2ª instância (sem sermos advogados);
- O uso (ou não) da hidroxicloroquina (sem sermos médicos ou, pior, sem lermos qualquer estudo científico fundamentado em dados randomizados, com amostragem significativa, etc e publicado por entidades reconhecidas por sua credibilidade e imparcialidade política) etc…
Portanto devemos nos informar antes de falar ou escrever sobre qualquer assunto. Se não seguirmos essa sequência básica, corremos pelo menos três riscos:
- Passar por desinformado ao compartilhar com nossa rede de contatos informações falaciosas (as chamadas fake news);
- Afastar pessoas que nos são queridas (ninguém quer se associar com pessoas sem credibilidade por mais amigas que sejam);
- Passar por situações vexatórias ao tentar responder a um auditor, por exemplo, como um sistema de gestão da qualidade pode ser considerado eficaz sem que as partes interessadas tenham sequer sido identificadas.
O conhecimento traz a credibilidade que tanto se deseja, mas a mesma só se conquista com estudo, dedicação e tempo. Pense nisto!
Sucesso!!!
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