(por Kelly Sganderla, do Blog da iProcess)
Variação dos preços do ovo de páscoa de acordo com pesquisa realizada pelo jornal O Globo.
Para um consumidor comum, pode parecer ultrajante mesmo que um ovo, cujo peso em chocolate às vezes é o equivalente a uma barra de chocolate do mesmo tipo, possa custar 100%, 200%, até 500% a mais.
Mas para o Analista de Processos, não há tanto mistério nisso.
Apresentando o Analista de Processos: essa pessoa como eu, que tem uma fome de conhecimento, que quer (que sente que precisa!) entender o por quê das coisas, que sabe que conhecer como as coisas acontecem é fundamental para se pensar em qualquer mudança para melhor.
O Analista de Processos entende que há muito mais do que o peso do chocolate em um Ovo de Páscoa. Antes de tomar partido em uma questão como essa, o Analista de Processos percebe que por trás do ovo existe um processo inteiramente diferente, e vai tentar entender a diferença olhando para o processo de ponta a ponta, do início até o momento em que o ovo chega às mãos de quem consome.
Inovação
Todo ano tem uma novidade, não é mesmo? Apesar do ovo ter uma forma tradicional há tanto tempo, a cada ano eles inventam algo diferente: é o ovo com camadas de caramelo e crocante, o ovo com marshmellow, o ovo com recheio de sorvete, com pedacinhos de cookies, com brinquedos-surpresa cada vez mais sofisticados.
No princípio, antes mesmo das máquinas começarem a misturar o cacau e os ingredientes para o chocolate dos ovos, pessoas estão realizando pesquisas de mercado e avaliando como podem inovar o produto no formato, no conteúdo e na embalagem.
Produção
As máquinas usadas para fazer os Ovos de Páscoa são diferentes do chocolate normal. E devido à sazonalidade (os ovos são produzidos apenas em uma época específica do ano), essas máquinas ficam paradas por um significativo período de tempo, gerando custo não apenas durante o seu uso, mas também na sua parada. Enquanto estão paradas, elas ocupam espaço, precisam de manutenção e limpeza mesmo quando não são utilizadas, e tudo isso tem um custo que precisa ser agregado ao produto. Há que considerar também que dependendo do tamanho da fábrica, a industrialização pode ser maior ou menor.
A produção dos ovos também é especializada. As pessoas que trabalham na fabricação dos ovos precisam ser capacitadas, gerando custo de treinamento. Por terem um conhecimento especial, essas pessoas tendem a representar um custo maior para a empresa do que um funcionário padrão.
Além disso, a produção do ovo é mais complexa. Ela passa por mais etapas. Enquanto a barra de chocolate só requer chocolate derretido em uma forma, resfriamento e embalamento – a maior parte deste trabalho automatizado -, os Ovos de Páscoa requerem que o chocolate seja pincelado em camadas sobre a forma, então resfriado e desenformado, corretamente montado com o tradicional “recheio surpresa”, ter o encaixe do pé e o embalamento especial. São muitas etapas envolvendo mais mão de obra humana do que o chocolate comum e, é claro, que requer muito mais cuidados.
Logística de distribuição e armazenamento
E então temos a logística, que também é diferenciada. Ovos de Páscoa ocupam mais espaço e são mais frágeis que caixas com barras de chocolate, o que implica em mais caminhões para transportarem carga equivalente, além do cuidado extra no transporte para não quebrarem.
O mesmo se aplica à armazenagem requerida pelos ovos, já que ocupam mais espaço (relativo à quantidade de chocolate) e são mais delicados no manuseio. Como a produção de ovos incia bastante antecipada (para que na Páscoa ninguém fique sem o seu!), há uma necessidade de armazenagem longa e espaçosa.
Disponibilização
Há então o custo de ter uma exposição especial no mercado, aquele lugar de destaque, as estruturas em forma de parreira com os ovos e suas embalagens brilhosas e coloridas, todos pendurados na altura dos olhos só para deixar a gente com mais vontade de comprá-los.
E enfim, o custo também do desperdício causado por ovos quebrados. Um consumidor poderia considerar aceitável comprar uma barra de chocolate quebrada (desde que perfeitamente acondicionada e lacrada dentro da embalagem), mas dificilmente aceitaria comprar um ovo quebrado ou amassado. Ovos de Páscoa são para presente, e presentes queremos sempre que estejam em perfeitas condições como forma de demonstrar nosso carinho e atenção a quem recebe, não é assim?
Ovo quebrado é ovo não vendido, e ovo não vendido é custo para toda a cadeia de produção e distribuição, porque pagou-se por ele, mas ele não se pagou.
Então além da matéria-prima (cujo preço pode variar também devido à grande demanda na época), e é claro de algum lucro das empresas envolvidas, todo esse processo de inovar, fabricar, distribuir, armazenar e disponibilizar de forma diferenciada geram um custo agregado quase invisível ao consumidor, mas que só acontece por um motivo: na Páscoa não presenteamos as pessoas que amamos com simples chocolate – mas com ovo que simboliza uma tradição em brindar a família e os amigos com um símbolo cujo significado é muito maior do que o produto (e daí vai de acordo com a fé de cada um).
Analisar processos é fundamentalmente isto: compreender do inicio ao fim todas as atividades envolvidas na produção de um produto ou serviço, para entender suas complexidades, custo, tempo e recursos envolvidos. E a partir daí, identificar situações que possam ser melhoradas.
Um viva aos Analistas de Processos e mais um mistério desvendado!
Feliz Páscoa!
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Fonte: – Blog Iprocess