Por Suzane Gantzel
Jornalista
O 1º Encontro Nacional da Qualidade reuniu em média 500 inscritos remotamente no Dia Mundial da Qualidade e se consolidou perante o público.
Participar do ENAQ 2020– Encontro Nacional da Qualidade – foi uma experiência rica e significativa aos olhos do público. Assim podemos resumir o resultado da pesquisa realizada com os participantes pós-evento. Entre os vários quesitos apresentados da pesquisa, a satisfação com a organização do evento, palestrantes selecionados e qualidade nos temas apresentados resultaram em um índice de satisfação médio de 96%.
Outro ponto positivo é que mais de 95% recomendam o ENAQ a um colega ou amigo. Todos os quesitos avaliados na pesquisa fez com que alcançássemos a incrível avaliação geral de 9,3. Isto reforça ainda mais nosso compromisso em trazer um conteúdo de excelência e prático para a edição do próximo ano.
Com o tema “Boas práticas e tendências para um país melhor”, o 1º ENAQ mostrou o dia a dia da gestão da qualidade em organizações world class. As 12 horas de programação remota contou com especialistas nacionais e internacionais apresentando experiências práticas da gestão da qualidade por meio de cases, palestras, entrevistas e bate-papo.
Relembre o debate sobre os principais assuntos
Foi unânime entre os palestrantes que a padronização é apenas uma das etapas técnicas que uma empresa precisa implementar em um processo de certificação do sistema de gestão da qualidade. Entretanto, o que mais chamou a atenção dos participantes foi que o desafio da implementação da cultura da qualidade em todos os níveis da organização.
A análise foi validada por Edson Aguilera, consultor da Fundação Vanzolini para o Programa BEST de Acreditação em Cibersegurança com Foco na LGPD. Segundo ele, a certificação é bastante importante, mas o mais significativo é promover a mudança na maneira de trabalhar.
“A qualidade tem muitos objetivos que vão desde a garantia da segurança da informação até melhoria e perenidade dos negócios. Mas há necessidade de inovação também na qualidade para fomentar uma interação maior da empresa com o mercado por meio do lifetime value, ou seja, o valor da marca atribuído a todo o relacionamento do cliente ao longo da sua vida, e que conta com uma visão mais abrangente da qualidade com foco na experiência do usuário. A melhoria contínua requer estratégias de gestão de qualidade comprovadas que geram valor”, diz.
Participações internacionais
O envolvimento das pessoas também foi frisado por Dawn Ringrose, presidente da Organizational Excellence Specialists, no Canadá, e membro do Conselho de Benchmarking Global. “A liderança da empresa precisa abraçar esta forma de trabalhar e convidar os empregados a fazer parte de uma jornada de melhorias. Quando as pessoas forem incluídas nessas iniciativas farão uma grande diferença. E também dividir e celebrar com todos os resultados das melhorias, tudo isso ajuda a compor uma cultura de excelência”.
Para ela, seguir padronizações pode representar a fórmula de sucesso para as empresas. “Quando são implantadas as melhores práticas de gestão, que são comuns às organizações de alto desempenho, naturalmente se tem bons resultados. É como seguir a fórmula do sucesso, e muitas organizações no mundo já fizeram isso. É preciso seguir uma estrutura de excelência, definições desses modelos, melhores práticas de gestão, e princípios comuns às organizações de alto desempenho”, disse.
Paul Simpson, fundador e diretor da S2a2s, delegado do Comitê ISO TC 176, falou diretamente da Inglaterra sobre como a pandemia afetou as padronizações de qualidade.
“Somos especialistas em consultoria interna na nossa disciplina explicando para os outros como podem se ajudar, oferecer um serviço melhor, uma operação mais eficiente, quais áreas podem melhorar. Porém, durante a pandemia, nossa cadeia também teve dificuldades em relação a entregas. Tivemos avanços como o trabalho remoto, muitas pessoas trabalhando de casa, utilizando videoconferências. Mas precisamos nos adaptar, aprender a fazer verificações e certificações a distância”, disse.
Segundo ele, muitas organizações passaram pelo choque da pandemia e aproveitaram para ver como estavam trabalhando e analisar como podem tornar seus processos mais eficientes e robustos. “Ganhamos produtividade ao economizar tempo de deslocamento, e trabalhamos mais em casa do que antes no escritório. Conseguimos sobreviver com grande parte de pessoas fora do trabalho, buscando manter os processos a distância, e isso está sendo agora aplicado para a indústria de qualidade. Os certificados migram para as auditorias remotas”, garantiu.
Qualidade na área de tecnologia
Roberto Novoa, responsável pela área da Qualidade do Núcleo de Tecnologia da Informação do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) de São Paulo, afirmou que para a implantação de qualquer processo é necessário focar nas pessoas (clientes e funcionários). Assim, humanizando os procedimentos e se colocando no lugar dos usuários, é mais fácil observar as necessidades.
A implantação da certificação veio com o objetivo de organizar a área e minimizar o desperdício de tempo com questões que poderiam ser facilmente resolvidas com gerenciamento e gestão. O resultado do trabalho, realizado em meio à pandemia, foi um verdadeiro case para o meio hospitalar, já que o HC é público. Além disso, todo o ambiente ganhou com a redução de tempo de trabalho com a organização da documentação, mentalidade de processos e clima organizacional, além de uma maior confiança do cliente em relação ao atendimento.
Cases de excelência
A integração e participação das equipes é fundamental para o sucesso dos processos de gestão da qualidade. Deraldina Ramos, gerente Corporativa da Qualidade e do Sistema de Gestão Integrada da Solar Coca-Cola, apresentou o case de excelência em gestão da qualidade da empresa, que é uma franquia da marca mundial de refrigerantes.
Ela entrou na empresa ainda estagiária, em 1995, quando estava sendo implantando o SQCC – Sistema de Gestão da Qualificação da Coca-Cola, um modelo interno de padronização, e desenvolveu sua carreira acompanhando o crescimento da nova área. A partir de 2008 a empresa passou a buscar outras certificações internacionais do mercado.
“Naquela época o maior desafio era a resistência que grande parte das pessoas tinham à mudança. Não entendiam porque tínhamos que buscara ISO se já éramos certificados pelo modelo de gestão da The Coca-Coca Company”. Em sua visão, o grande passo para desenvolver a área de qualidade em qualquer empresa é colocar a equipe como protagonista dos processos, praticando a empatia. “É indispensável contar com um time engajado em aprimorar a qualidade dos processos, de forma muito integrada e conectada com as diretrizes”.
Desafio também é ser melhor e mais eficiente a cada dia. É assim que a Embraer procura trabalhar a gestão da qualidade na organização. O gerente de Qualidade Corporativa, Marcelo Reino, explicou no ENAQ que a empresa respira qualidade e que a transformação cultural acontece diariamente na busca pela autossuperação.
“A qualidade visa a segurança de clientes e colaboradores em primeiro lugar e passa por todo o processo de preparação, execução até monitoramento, aprendizado e transformação, visando a satisfação de todos os usuários internos e externos”, explicou, ressaltando que a atuação da qualidade na empresa é global e que a estratégia dá voz ao cliente, integra dados com a rede de fornecedores, realiza a inspeção autônoma e monitoramento em tempo real, além de ter espaço constante de discussão na agenda da corporação.
Entrevistas sobre tendências do mercado
Os desafios da pandemia também foram enfrentados com sucesso pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO. É o que conta Aldoney Costa, pesquisador-tecnologista, coordenador Geral de Acreditação da entidade. Segundo ele, mesmo com os impasses do isolamento e do home office, o saldo é positivo, já que muitos processos foram avançados na questão digital.
“O principal desafio foi a integração dos sistemas e a suspensão temporária das avaliações. Entretanto, agora praticamente tudo está sendo feito remotamente e novidades já estão sendo desenvolvidas para serem lançadas no primeiro trimestre do ano que vem sobre um novo modelo regulatório e de consulta pública”, contou.
Ivan Gonçalves, diretor Comercial da Qualyteam e um dos idealizadores do ENAQ 2020, explicou que o evento tangibiliza a importância de os conhecimentos serem compartilhados e fortalecidos os princípios da gestão da qualidade. Em sua entrevista sobre mentoria para o Sistema de Gestão de Qualidade, o especialista ressaltou as diferenças entre auditoria e mentoria, relacionando o escopo de atendimento aos requisitos de norma para aquela e orientação técnica para a mentoria.
Qualidade à Mesa
Ao fechamento do evento, reuniram-se Ivan Gonçalves, Marcelo Reino, Aldoney Costa e Edson Aguilera num bate-papo compartilhado sobre as boas práticas e tendências para um país melhor. Foi destacada nessa conversa a certificação como fator que contribui para a credibilidade das organizações perante a sociedade e a segurança do consumidor, além da importância da capacitação do profissionais da qualidade para a fundamentação da certificação, que fazem com que as organizações alcancem um nível de maturidade organizacional e mantenham o que foi conquistado com a certificação em forma de valor ao usuário.
Também foi ressaltado o trabalho de estímulo à extensão da qualidade para além da empresa, na sua cadeia de parceiros, que fortalece todo o ecossistema daquele setor, estendendo os conceitos para empresas menores com menos recursos para a implementação dos processos, elevando o nível de fornecimento. Para o grupo, a gestão da qualidade é um conjunto de princípios e conceitos que estão em todas as normas, mas que ultrapassam a atuação da certificação para toda a organização e sua rede de soluções.