A ISO 9001:2015 exige um maior envolvimento da alta direção com o SGQ. Para auxiliar nesse trabalho, entrevistamos o engenheiro Rodolfo Mueller Schlemm, que traz uma experiência de décadas na aproximação da qualidade com o topo da pirâmide, no Brasil e na Alemanha. Rodolfo é sócio diretor da MBC Sintesys, uma empresa de consultoria em gestão sustentável.
1) Qual sua experiência em lidar com a alta direção nos assuntos relacionados à gestão da qualidade?
Iniciou muito cedo, quando participava de reuniões do conselho de grande empresa familiar (Mueller Irmãos S/A) e após curso de pós-graduação na UFSC em 1980 assumi cargo de direção onde pude colocar em prática muitos conhecimentos adquiridos com resultados maravilhosos. E de uma forma crescente, pude aplicar novos conhecimentos ocupando cargos de direção em diversas empresas importantes, nacionais e multinacionais, assumindo liderança nos temas ligados a sistemas integrados de gestão. Pude aprofundar habilidades em gestão empresarial trabalhando como auditor de 3ª parte e ministrando treinamentos em paralelo aos cargos exercidos nas empresas. O que colaborou muito na formação e entendimento de sistemas de gestão que fazem sentido foi a oportunidade de trabalhar na Alemanha em empresas líderes em seus segmentos, bem como realizar cursos e auditorias neste país, que considero que gerou a base de muitas normas técnicas e de gestão.
2) Historicamente, como evoluiu a relação da alta direção com a qualidade?
Acredito que grandes líderes empresariais sempre entenderam que a qualidade em todas as ações e produtos geram diferenciais que levam a sustentabilidade do empreendimento. Por exemplo, meu bisavô foi um precursor, valorizando cada colaborador e criando um modelo de governança corporativa com base na qualidade dos relacionamentos, dando direção e sentido à empresa que ajudou a criar. Com o avanço da ciência, aos poucos os conceitos sobre qualidade foram evoluindo do controle da produção para a gestão integral das organizações. Alguns poucos líderes visionários foram responsáveis por terem tido a coragem de inovar e gerar mudanças que gradativamente a grande maioria tardiamente está percebendo e tentando incluir em seus modelos de gestão.
3) Hoje em dia, qual o comportamento mais comum encontrado no topo da pirâmide em relação à ISO 9001?
Minha percepção em contato com muitas organizações é que, em geral, a alta direção apoia os movimentos em relação ao modelo de gestão baseado nas normas ISO, porém não domina os conteúdos e conceitos destas normas de forma adequada e profunda. Desta forma, acabam gerando diversas ações não alinhadas, criando ilhas ou caixinhas responsáveis pelo atendimento aos requisitos ao invés de um modelo integrado de gestão, que faça sentido e motive cada pessoa desta organização na aplicação dos requisitos de forma simultânea.
4) O senhor percebe diferenças significativas entre empresas em que a direção está envolvida com a qualidade e empresas onde não há este envolvimento?
Sim, nitidamente pelos resultados alcançados e pela motivação e engajamento do pessoal. Todos sabem sua missão e seu alinhamento com as estratégias da organização, bem como o sentido em direção a uma visão clara de futuro desta.
5) Ao se envolver com a qualidade, quais consequências são mais percebidas pela própria alta direção?
Através de comprometimento e envolvimento com um modelo de gestão adequado, o sentimento que as ações fluem de forma simples e eficaz, gerando resultados, como, lucro, melhorias contínuas e inovação, satisfação das partes interessadas (clientes), entre outros.
6) O que os RDs devem fazer para convencer a alta direção a se envolver mais com a qualidade?
Primeiramente entender que todos são responsáveis pela qualidade dos resultados e que o modelo de gestão adotado tenha a “cara” da empresa, não sejam apenas um amontoado de cópias de papéis de outras organizações. Que o planejamento do negócio esteja bem fundamentado em atender todos os requisitos aplicáveis ao produto, no sentido que produto é tudo o que sai do sistema, no caso a empresa. E fundamentalmente criar um modelo de forma participativa e estratégias para alcançar a visão bem definida. No caso a estratégia mais importante é que as pessoas acreditem neste modelo e desenvolvam a habilidade de vender para as outras a essência deste.
O RD deve ser o primeiro conhecer o que motiva a AD
A qualidade deve ser total, praticada em todos os processos por cada colaborador, não virar rotina apenas do RD. Entender que a gestão da qualidade é hoje a gestão do negócio. E que a Alta Direção (AD) pode comprometer o projeto de implantação, ou seja, pode inviabilizar o mesmo, se não se engajar e se envolver completamente na sua realização. O RD e time de implantação deve conhecer detalhadamente o projeto, ouvir a todos e agir pró ativamente.
Em termos práticos, o RD (time) deve entender que a AD tem a responsabilidade de questionar qualquer coisa que agregue tempo e custos à empresa. Portanto o RD deve ser o primeiro conhecer todos os aspectos relacionadas com o valor e o que motiva a AD, apresentando o Sistema de Gestão da Qualidade numa linguagem em termos monetários e diretamente relacionada com os objetivos da empresa.
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Para conhecer mais e entrar em contato com Rodolfo Mueller Schlemm, acesse www.sintesys.com.br.
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