Em grande parte das minhas atividades de consultoria, treinamentos ou auditorias, quer seja de primeira, segunda ou terceira partes, muitos profissionais me perguntam qual seria o futuro para os Sistemas de Gestão:
- Seria uma “Qualidade 4.0”?
- Seria um Sistema de Gestão 4.0?
- Seria uma automatização do Sistema de Gestão?
- Seria uma onda de certificação em massa conforme a ISO 9001, ISO 14001, ISO 45001, IATF 16949, por exemplo?
- Seria a extinção ou descrédito das certificações conforme modelos atuais?
Alguns colegas especialistas em Sistemas de Gestão têm escrito também sobre as empresas que são ou foram certificadas e que simplesmente faliram. Sem dúvida um tema muito interessante para reflexão.
Vários “consultores especialistas” apontam os auditores das certificadoras como os verdadeiros vilões por haver tantas empresas certificadas e sem ter um sistema de gestão minimamente decente.
Outros dizem que os auditores das certificadoras precisam auditar o negócio! Penso que é muito interessante, porém resultados do negócio propriamente dito não existem em requisitos das normas dos sistemas de gestão. Depende muito do fator de interesse das organizações em realmente focar o seu sistema de gestão para agregar valor ao negócio e não para “simplesmente passar pela auditoria”.
Tenho também participado de alguns grupos em redes sociais para troca de experiências e que na verdade são grupos para troca de modelos de procedimentos e planilhas, sem se preocuparem em entender a necessidade da empresa para posteriormente buscar as soluções para tais necessidades.
O que tenho refletido e procurado deixar como um ponto a ser analisado pelas empresas: quando se constrói uma casa, se inicia pelo telhado ou pelo alicerce?
Será que as empresas que estão procurando saber o futuro dos sistemas de gestão, quais os segredos para o seu futuro, pararam para analisar o alicerce do seu sistema de gestão? Temas para reflexão:
- Temos um 5S que funciona?
- Conhecemos, praticamos e buscamos cumprir os 14 princípios de Deming, como por exemplo:
- 1 – Crie constância de propósito;
- 3 – Não dependa da inspeção para atingir a Qualidade;
- 5 – Aperfeiçoe constante e continuamente os processos da empresa (melhoria contínua);
- 7 – Adote e estabeleça lideranças (e não chefes!);
- 13 – Estabeleça um programa rigoroso de educação e auto aprimoramento;
- 14 – Coloque a empresa toda para trabalhar pela transformação.
- Nossas missão, valores, visão e políticas estão alinhadas com o direcionamento estratégico da empresa? São apenas um discurso bonito ou são desdobradas em objetivos, indicadores e planejamento estratégico?
Ter um sistema de gestão certificado não é sinônimo de ter sucesso nos negócios. Conforme já citado neste texto, várias empresas certificadas tiveram resultados muito ruins que as levaram à necessidade de venda, concordata, recuperações judiciais ou até mesmo a falência.
Mas qual a causa de ter um sistema de gestão “de mentirinha”?
Na minha modesta opinião, são vários os fatores. Mas o mais forte é o empresário que quer apenas um “papel na parede”, um certificado que está suportado apenas por um prego e, dependendo da qualidade do reboco, o prego cai facilmente. Com uma visão destas, a cultura é formada e desdobrada para gestores que não enxergam a oportunidade de utilizar as práticas internacionais já discutidas e definidas pela ISO como os requisitos “mínimos” para a gestão da empresa.
Passa também por “pseudo consultores” que vendem a implementação de um sistema de gestão enlatado que eles trazem prontos de outras empresas sem respeitar as características e cultura da empresa. Finaliza com os auditores de terceira parte mal preparados que aceitam aprovar sistemas de gestão medíocres, “fazendo de conta” que auditam de verdade.
Antes de culpar a ISO, outras normas de gestão, os modelos de certificação existentes, ou ainda tentar entender quais as tendências de futuro, precisamos fazer uma revisão do contexto atual da organização conforme item 4.1 da ISO 9001. E também incluir uma forte reflexão sobre os fatores internos que podem fazer diferença no forte cenário externo competitivo.
Como melhorar a situação atual?
Para não ficar apenas criticando os modelos e atitudes atuais, sugiro algumas linhas de ações que poderiam ser tomadas para melhorar a situação atual dos Sistemas de Gestão:
- Reciclagem nos conceitos básicos de Sistemas de Gestão, como por exemplo:
- a) Metodologia de 5S;
- b) 14 princípios de Deming;
- c) Cultura Organizacional, incluindo Missão, Valores e Visão;
- d) Conceitos de Gestão da Qualidade e Controle da Qualidade;
- e) Conceitos de prevenção e metodologias à prova de falha – poka yoke;
- f) Metodologia de Análise Solução de Problemas – análise de causas;
- Revisão geral no sistema de gestão da organização e planejamento do mesmo para atender os requisitos de USO da organização e não mais para simplesmente atender os requisitos da ISO e passar pelas auditorias;
- Revisão da missão, valores, visão e políticas para que estejam alinhadas com o direcionamento estratégico da empresa e assegurar que os mesmos sejam entendidos e atendidos por todos os colaboradores da organização;
- Definição e implementação de indicadores de desempenho de acordo com o planejamento estratégico, com os riscos e oportunidades, com os mapas de processo e demais objetivos estratégicos e operacionais da organização;
- Erradicação de “pseudo consultores” que se preocupam em vender horas de consultoria e fazer sistemas de gestão para apenas passar pelas auditorias de certificação, vendendo modelos “enlatados” e não de acordo com a cultura da organização;
- Erradicação dos organismos de certificação que aceitam qualquer coisa que se apresenta nas auditorias, preocupados apenas com os resultados comerciais;
- Erradicação dos auditores de organismos de certificação que também aceitam qualquer coisa que se apresenta nas auditorias, sem querer discutir a eficácia no atendimento aos requisitos e que se escondem atrás de oportunidades de melhoria.
Estas são apenas algumas das sugestões para que possamos ajudar a reconstruir o formato dos sistemas de gestão atuais e fazer como que os mesmos sejam adequados para auxiliar na melhoria real das organizações e seus resultados.
Sucesso a todos!