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Gestão de Riscos

Programa de Gerenciamento de Riscos: Guia Prático

Por: Circe Precht

10 jun 2025 • 7 min de leitura

Gráficos sobre mesa e dominós prestes a cair, contidos por uma mão: conceito de controle de riscos.

Um Programa de Gerenciamento de Riscos bem estruturado pode ser o diferencial entre a prosperidade e o fracasso de uma organização. 

Isso porque, mais do que simplesmente prever o que pode dar errado, gerenciar riscos exige inteligência, planejamento e decisões estratégicas que protejam os ativos.  

Fazer isso, assegura a continuidade dos negócios e fortalece a resiliência organizacional.

A principal referência internacional sobre o tema é a norma ISO 31000:2009, que oferece diretrizes abrangentes para a implementação de uma gestão de riscos eficaz. 

Neste artigo, vamos explorar como desenvolver e implementar um programa de gerenciamento de riscos eficaz, com base em diretrizes reconhecidas, boas práticas de mercado e exemplos que mostram o impacto dessa abordagem.

O que é risco e por que gerenciá-lo?

Risco é o efeito incerto de um evento sobre os objetivos de uma organização. 

Pode ter impacto negativo ou positivo, mas, no contexto da gestão, o foco geralmente está em minimizar consequências negativas.

Antes de tudo, é essencial entender:

  • Fonte de risco: o que pode causar um risco (ex.: mercado, falha técnica).
  • Evento: o que pode acontecer e provocar um risco (ex.: aumento de concorrência).
  • Probabilidade: a chance de o risco se concretizar.
  • Impacto: a gravidade das consequências caso o risco ocorra.

Exemplo simples: nadar com um tubarão na piscina. O tubarão é a fonte de risco, nadar com ele é o evento, e a mordida é o risco.

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Etapas práticas de um Programa de Gerenciamento de Riscos

Para ilustrar como um Programa de Gerenciamento de Riscos funciona na prática, vamos utilizar o exemplo de uma empresa fictícia: a SL Suco Leve, fabricante de suco de laranja. 

Com base nas diretrizes da ISO 31000, a empresa estruturou seu programa de forma estratégica, alinhando-o à metodologia PDCA (Plan-Do-Check-Act) e dividindo sua operação em três macroprocessos: Gerencial, Operacional e Apoio, conforme detalhado no modelo abaixo:

Gerencial: abrange gestão, comercial, suprimentos e faturamento, garantindo alinhamento com a missão, visão e expectativas das partes interessadas.

Operacional: inclui produção e expedição, focando na eficiência dos processos-chave.

Apoio: contempla controle de qualidade e melhoria contínua, assegurando padrões e adaptabilidade.

Diagrama de fluxo que representa os principais processos de uma organização em diferentes níveis. Mostra a missão, visão, necessidades das partes interessadas e ambiente externo/interno. Contém áreas funcionais como Gestão, Comercial, Suprimentos, Faturamento, Produção, Expedição e Controle da Qualidade. As setas indicam interação entre os processos, foco em melhoria contínua e atendimento às partes interessadas.

Essa divisão é essencial para um mapeamento de riscos preciso, permitindo ações específicas por área. 

A SL Suco Leve implementou as seguintes etapas, que servem como modelo para qualquer organização:

  • Estabelecimento do contexto (alinhamento estratégico).
  • Identificação de riscos (etapa Plan do PDCA).
  • Análise e avaliação de riscos (priorização com base em impacto e probabilidade).
  • Tratamento de riscos (etapa Do, com ações corretivas ou preventivas).
  • Avaliação da eficácia (etapa Check, por meio de indicadores de qualidade).
  • Tratamento do risco residual (etapa Act, fechando o ciclo com ajustes).

Essa abordagem integrada, demonstra como a SL Suco Leve equilibra processos estratégicos e operacionais, garantindo robustez no gerenciamento de riscos e melhoria contínua.

Tabela com sete passos do gerenciamento de riscos, com colunas "Passo", "Descrição" e "Etapa". Inclui atividades como "Estabelecimento do contexto", "Identificação de riscos", "Análise de riscos", "Avaliação de riscos", entre outras. Cada uma está associada a uma etapa: "P" (Planejamento), "D" (Desenvolvimento), "C" (Checagem), "A" (Ação), seguindo o ciclo PDCA.

A seguir, vamos nos aprofundar nesse passo a passo adotado pela empresa, que pode servir como modelo para qualquer organização:

1. Estabelecimento do Contexto

Antes de identificar qualquer risco, entenda:

  • O ambiente externo (econômico, político, legal)
  • O ambiente interno (cultura organizacional, processos, tecnologia)
  • Os processos da empresa (Gerenciais, Operacionais e de Apoio)

No caso da empresa fictícia do nosso exemplo, ela começou definindo o ambiente interno e externo que poderia afetar seus resultados. 

No ambiente externo, foram considerados fatores como mudanças na carga tributária, crescimento da concorrência e exigências regulatórias. 

Já no ambiente interno, a atenção se voltou para a estrutura organizacional, os processos, e as práticas comerciais e de qualidade.

Dividida em três processos principais (Gerencial, Operacional e Apoio) e sete departamentos (Gestão, Comercial, Suprimentos, Faturamento, Produção, Expedição e Controle de Qualidade), a empresa mapeou os riscos específicos de cada área.

Essa abordagem por processos é essencial para garantir uma análise realista e eficiente.

2. Identificação dos Riscos

Liste os possíveis eventos negativos que podem afetar os objetivos da empresa. Separe por:

  • Origem: Externa ou Interna
  • Tipo: Financeiro, Mercadológico, de Qualidade, Compliance etc.

No departamento Comercial da nossa empresa exemplo, foram identificados riscos como:

  • Externos:
    • Perdas financeiras causadas por aumento de impostos.
    • Perda de market share devido ao surgimento de novos concorrentes.
  • Internos:
    • Perda de clientes por envio de produtos fora da especificação.
    • Prejuízos financeiros decorrentes de práticas comerciais indevidas (compliance).
    • Reclamações não atendidas, afetando a percepção de qualidade.

Esses riscos foram documentados com base em suas origens e tipo (financeiro, mercadológico, de qualidade, etc.).

3. Análise dos Riscos

Avalie dois fatores:

  • Probabilidade: Qual a chance do risco ocorrer?
  • Impacto: Se ocorrer, qual o dano?

Monte uma matriz de risco e classifique: Alto, Médio, Baixo.

A SL Suco Leve, aplicou uma matriz de Probabilidade x Impacto para classificar cada risco. Por exemplo:

  • O risco de perder clientes por não atender às demandas foi classificado como Alta Probabilidade e Impacto Moderado.
  • Já o risco de perda de market share por produtos concorrentes de maior qualidade teve Média Probabilidade e Impacto Alto.

Com essa classificação, a empresa pôde visualizar quais riscos exigem ações imediatas e quais devem ser monitorados.

4. Avaliação dos Riscos

Compare o risco identificado com o que sua empresa aceita correr: o chamado Apetite ao Risco.

Exemplo de decisões:

  • Evitar o risco
  • Mitigar o risco com ações preventivas
  • Reter o risco (assumir, se for tolerável)

Com base no seu “apetite ao risco”, a empresa do nosso exemplo determinou como deveria agir frente a cada cenário:

Tabela que apresenta uma matriz de apetite ao risco, com colunas "Probabilidade", "Impacto" e "Abordagem". Mostra combinações entre alta, média e baixa probabilidade e impacto, com as abordagens correspondentes: "Evitar", "Mitigar" ou "Reter" o risco, de acordo com a severidade da situação.

5. Tratamento dos Riscos

Baseado na análise, defina ações usando a ferramenta 5W2H:

  • What: O que será feito?
  • Why: Por que?
  • How: Como?
  • Where: Onde?
  • Who: Quem fará?
  • When: Até quando?
  • How much: Quanto custa?

6. Avaliação da Eficácia das Ações

Após um período (ex: 90 dias), reavalie os riscos tratados. As ações foram eficazes? O risco foi reduzido ou ainda exige atenção?

No caso da SL Sucos, para alguns riscos, o impacto e a probabilidade diminuíram, indicando que as ações foram eficazes. 

Outros mantiveram os mesmos níveis de risco, exigindo ajustes ou novas ações.

7. Tratamento do Risco Residual e Secundário

Mesmo após o tratamento, os riscos residuais podem permanecer. E ações preventivas podem gerar riscos secundários (novos riscos decorrentes da ação).

Por exemplo, na SL Sucos, embora a padronização da expedição tenha reduzido erros, eventuais falhas humanas ainda poderiam ocorrer. 

A empresa, então, implementou uma segunda camada de verificação para mitigar esse risco residual.

Além disso, ao automatizar partes do processo para evitar erros, surgiram riscos secundários, como falhas técnicas no sistema. Isso exigiu novas análises e medidas corretivas.

Para ficar mais claro: tirar o tubarão da piscina pode gerar o risco de alguém cair e ser mordido no processo.

Um programa de Gerenciamento de Riscos não precisa ser complexo

Implementar um Programa de Gerenciamento de Riscos eficaz exige:

  • Conhecimento técnico
  • Engajamento dos gestores
  • Distribuição da responsabilidade por processos
  • Avaliações periódicas

Pode parecer complexo, mas não é. 

Com uma abordagem estruturada e prática como essa, sua empresa estará melhor preparada para lidar com incertezas e garantir a continuidade dos negócios.

E se precisar de uma ajuda com isso, conte com o Qualyteam Software para gestão de riscos. 

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Circe Precht

Circe Precht é jornalista formada pela PUCRS, com mais de dez anos de experiência em comunicação. Pós-graduada em Marketing e Redes Sociais, atua como Analista de Conteúdo na Qualyteam, criando conteúdos focados em gestão da qualidade.

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