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Matriz de materialidade: como usar para atender a emenda 01/2024 ISO 9001

Por: Adriana Sartori

18 jul 2024 • 6 min de leitura

mão segura planeta terra - representando a importância da matriz de materialidade
Em 2024, a ISO 9001 veio com uma emenda que, apesar de curtíssima, modifica todo o cenário organizacional das empresas que têm o SGQ certificado.

Em uma frase, a ISO 9001 traz especificado no bojo da seção 4 – que trabalha o contexto organizacional, partes interessadas, escopo e processos do SGQ – que as organizações precisam:

  1. Determinar se mudanças climáticas são uma questão relevante e
  2. Se partes interessadas relevantes podem ter requisitos relacionados a mudanças climáticas.

Trata-se, em uma visão mais abrangente, do que se subentende sob o termo “sustentabilidade”. Fato é que a norma nomeia, com todas as palavras, que espera que as empresas tenham projetos com impactos reais por trás do hype e dos discursos sobre a sustentabilidade ambiental.

Dito isso, a pergunta que todos os profissionais da qualidade estão se fazendo é: como? 

Muitas empresas não sabem por onde começar, o que devem incluir e nem muito menos como reportar seu desempenho na tratativa de questões ligadas a impactos climáticos e sustentabilidade em geral.

A matriz de materialidade tem sido a ferramenta de que as empresas mais têm se apropriado com esse fim em vista. Segundo a KPMG, 80% das 250 maiores empresas do mundo a usam.

Neste artigo, você tem insumos para dar os passos iniciais com essa ferramenta, para usá-la seja se adequar à emenda 01/2024 da ISO 9001, seja no desdobramento de uma agenda robusta e completa em ESG.

O que é matriz de materialidade?

“Materialidade” é um termo oriundo do mundo financeiro e, segundo reportagem da Forbes.,“é definido, essencialmente, como informação que pode influenciar e, em última instância, informar decisões financeiras de uma instituição”. 

A partir dessa origem, a matriz de materialidade é uma definição das questões de sustentabilidade ou ESG que importam ser priorizadas para um negócio e suas partes interessadas – precisamente o que a ISO 9001 pede na emenda 01/2024.

Essa abordagem pode ser dupla: tanto no sentido de efeitos de mudanças climáticas que a organização pode sofrer quanto de impactos climáticos que ela pode causar. Nesse caso, teremos uma matriz dupla de materialidade.

Independentemente de ser simples ou dupla, a matriz de materialidade sempre será uma visão holística. Ela deseja dar conta de todos (ou da maioria) dos tópicos ligados a sustentabilidade e ESG relacionados à organização.

Por essas características, segundo artigo da KPMG, a matriz de materialidade deve ser vista como uma ferramenta estratégica que oportuniza a aplicação de uma lente de sustentabilidade aos processos de gestão de riscos e oportunidades.

O que esperar de uma matriz de materialidade

Ao conduzir uma matriz de materialidade, a organização assegura mas também direciona a tratativa de questões ligadas e sustentabilidade e ESG, dentro do planejamento estratégico e de seus investimentos.

Mais que isso, ao se dedicar a esse levantamento, a empresa oportuniza a identificação de tendências, podendo se preparar seja para mitigá-las no caso de riscos, seja para aproveitá-las no caso de oportunidades.

Como fazer uma matriz de materialidade?

Há vários guias de diferentes grandes consultorias – a exemplo de KPMG, Forrester, PwC e Deloitte – ensinando a fazer uma matriz de materialidade.

Aqui, trazemos uma síntese de 5 passos que busca um caminho comum a essas abordagens:

1. Compreender propósito, escopo e requisitos atuais e do futuro

Desenho do contexto e momento organizacional, assim como stakeholders, com vistas a:

  • Definição do que significa materialidade para a organização
  • Conscientização e adesão ao projeto
  • Engajamento a nível executivo 
  • Definição de propósito 
  • Determinação da abordagem.

2. Identificar e registrar tópicos potencialmente materiais

Mapeamento de tópicos relevantes, análise inicial de seus impactos e consolidação da lista.

3. Avaliar tópicos identificados, categorizar e validar resultados

Aprofundamento na análise, com:

  • Coleta de contribuições de stakeholders
  • Relevância para a organização
  • Análise de impacto financeiro e não financeiro
  • Refinamento da lista e agrupamento por afinidades.

4. Priorização

Cotejamento dos tópicos materiais levantados com a estratégia e outros requisitos dos stakeholders a fim de priorizar.

5. Gerenciar, conduzir e atualizar tópicos materiais

Acompanhamento dos tópicos materiais, insights para conduzir a tomada de decisão, feedback de stakeholders, garantindo que a matriz de materialidade seja de fato incorporada pela organização.

10 boas práticas na construção de uma matriz de materialidade

A Deloitte recomenda as seguintes práticas para o desenvolvimento de matrizes de materialidade:

  1. Definição de um patrocinador da alta direção para ser dono do projeto.
  2. Vinculação da matriz de materialidade ao planejamento estratégico, como uma entrada a definição de projetos, investimentos, aquisições, fusões, definição de portfólio e outras.
  3. Determinação de estruturas de governança para os processos de materialidade.
  4. Mapeamento de impactos de dentro para fora e, depois, de fora para dentro.
  5. Alinhamento a objetivos financeiros e não financeiros.
  6. Coordenação de esforços de atuação sobre questões materiais.
  7. Atualização contínua da matriz de materialidade.
  8. Integração dos tópicos materiais nos sistemas de gestão da organização.
  9. Desenho de relatórios de feedback sobre projetos, para comunicação com stakeholders.
  10. Faça benchmarkings com parceiros e outros pares no mercado.

Limitações da ferramenta

Uma limitação bem documentada sobre a matriz de materialidade é a falta de dados, que acaba levando a avaliações rasas e enviesadas, que não refletem a compreensão e análise dos riscos, impactos e oportunidades na cadeia.

A contraparte dessa limitação é uma abordagem complexa demais, em que tudo é importante, sem a devida contextualização e conexão com o negócio.

Ambos os fatores levam à falta de transparência na escolha de tópicos e projetos e, pior que isso, à incapacidade de agir, isolando os tópicos materiais do resto do negócio. 

A ação sobre as questões materiais não está engendrada na matriz, de modo que essa ponte precisa ser criada.

Outro ponto relacionado ao primeiro é a falta de dinamicidade das matrizes de materialidade. Elas precisam ser revisitadas de tempos em tempos e atualizadas sempre que necessário ou oportuno, a fim de captarem tópicos emergentes. 

Adeque o SGQ à emenda 01/2024 com a matriz de materialidade

A matriz de materialidade é uma ferramenta que – a exemplo do que já vêm fazendo grandes empresas – pode ser adotada pela organização a nível estratégico para responder, em um sentido mais restrito, às novas exigências da ISO 9001 e, em um sentido mais amplo, a uma agenda ESG.

Sua simplicidade conceitual e metodológica, no entanto, não pode levar a um uso superficial da ferramenta pela organização.

Conte com apoio para o desenho e uso de sua primeira matriz de materialidade.

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Adriana Sartori

18 jul 2024

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